VII Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho e III Congresso sobre Riscos Psicossociais e Saúde nas Organizações e no Trabalho
Florianópolis - Encerrou na sexta-feira (08), o VII Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho e III Congresso sobre Riscos Psicossociais e Saúde nas Organizações e no Trabalho, realizado de forma online, pelo Núcleo de Estudos de Processos Psicossociais e de Saúde nas Organizações e no Trabalho (NEPPOT/UFSC), Fórum Saúde e Segurança do Trabalhador de Santa Catarina (FSST/SC) e demais parceiros. Foram cinco dias para divulgar, refletir e discutir as formas de análise, prevenção, intervenção e monitoramento dos riscos psicossociais e do assédio moral e violências no trabalho, com a participação de pesquisadores e profissionais referências do Brasil, por meio de palestras, mesas redondas, comunicações orais e relatos de intervenção.
Em pauta as mudanças sociais, econômicas e políticas na contemporaneidade, de modo especial no mundo do trabalho, que têm promovido novos desafios de análise e intervenção nos aspectos fundamentais da segurança e saúde dos trabalhadores. De acordo com os organizadores, as relações interpessoais e as condições do trabalho têm se mostrado potenciais causadores de danos psicológicos, sociais e/ou físicos aos trabalhadores e neste contexto, os riscos psicossociais no trabalho, e o assédio moral como um exemplo, podem comprometer a saúde e a qualidade de vida não somente dos trabalhadores, bem como o desempenho organizacional.
As mudanças na legislação trabalhista e os riscos aos trabalhadores foi um dos assuntos em destaque. O Procurador do Trabalho Bruno Martins Mano Teixeira, presidente do FSST/SC, abriu o debate falando das perdas acumuladas pelos trabalhadores a partir da Reforma Trabalhista e de alterações nas Normas Regulamentadoras, contrárias a Constituição Federal que em seu Artigo 7º determina os direitos constitucionais dos trabalhadores. Para o Procurador, a retirada de direitos reflete diretamente no aumento das doenças físicas e mentais dos empregados. Sobre as doenças psicossociais relacionadas ao trabalho, Bruno Teixeira acredita que só haverá um controle “quando se retirar do foco o indivíduo e passar para o ambiente laboral a responsabilidade”. Citou como exemplo a síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico, causado pela exaustão extrema, sempre relacionada ao trabalho de um indivíduo, resultado direto do acúmulo excessivo de estresse, de tensão emocional e de trabalho. O transtorno está registrado no grupo 24 do CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) como um dos fatores que influenciam a saúde ou o contato com serviços de saúde, entre os problemas relacionados ao emprego e desemprego.
"Enquanto não houver o entendimento de que o trabalhador está adquirindo transtornos dentro de sua atividade profissional e não por uma característica pessoal e que dependemos de políticas públicas de enfrentamento, estaremos passando para o trabalhador, o empregador e a sociedade os custos da previdência que só em 2020 gastou em Santa Catarina R$ 2.000.000.000,00 (dois bilhões de reais) em dias parados decorrentes de acidentes de trabalho e R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais) pagos em benefícios a trabalhadores acidentados", alertou Dr. Bruno.
O Procurador do Trabalho Acir Alfredo Hack, que participou da mesa, disse que a Reforma Trabalhista veio num momento em que forças progressistas estavam enfraquecidas, não sendo mais desastrosas devido a falta do fórum qualificado que pretendia mudar a Constituição Federal. “A reforma, além de retirar direitos dos trabalhadores, dificultou o acesso à justiça e não considerou os riscos à saúde dos empregados, visando somente o lucro das empresas”, lamentou.
Para encerrar o debate, a advogada Luciana Alves Dombkowitsch, Vice-presidente da Agetra - Associação Gaúcha da Advocacia Trabalhista, afirmou que no atual contexto “o trabalhador é o próprio carrasco de si mesmo”. Segundo ela, com as medidas de austeridade em benefício ao setor econômico, o estabelecimento de metas, palestras motivacionais, participação nos lucros e outras tantas estratégias adotadas para fazer o empregado gerar mais lucro e resultados, aquele que não consegue atingir os objetivos, é considerado por ele mesmo um derrotado, um fracassado e, fatalmente, será um trabalhador, vítima de doença psiquiátrica. Luciana acredita em dias melhores somente com uma Contrarreforma Trabalhista, a exemplo do que aconteceu recentemente na Espanha.
Para ver o debate na íntegra acesse: https://www.youtube.com/watch?v=ce_yyfY5J38
Assista a outros temas abordados no seminário:
Assédio Moral e Gênero no Trabalho - Leonor Maria Cantera Espinosa
https://www.youtube.com/watch?v=1FNoiLLMUE
Assédio Moral e Saúde no Trabalho - José Roberto Montes Heloani
https://www.youtube.com/watch?v=fqCJnNrwvJY
Precarização do Trabalho, Informalidade e Riscos Psicossociais - Carlos Eduardo Carrusca Vieira e Emilio Peres Facas Lucas Schweitzer
https://www.youtube.com/watch?v=h-8V-9jitK0
Homenagem a médica e pesquisadora Margarida Barreto
A realização do VII Seminário Catarinense de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho e III Congresso sobre Riscos Psicossociais e Saúde nas Organizações e no Trabalho foi dedicada a médica e pesquisadora Margarida Maria Silveira Barreto. Professora do curso de Pós-graduação em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, conhecida no meio científico e sindical por seu pioneirismo nos estudos que identificaram e conceituaram o assédio moral no trabalho, doutora em Psicologia Social e integrante pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social da PUC-SP, a médica foi também precursora dos estudos sobre assédio sexual e ajudou a identificar o impacto das diversas formas de assédio na vida dos trabalhadores.
Margarida faleceu no início dia 03/03/2022. Ela lutava há mais de um ano contra um câncer no estômago, mas imunodepressiva, acabou perdendo a energia para prosseguir o tratamento ao contrair o coronavírus no início deste ano. Foi parceira, incentivadora e palestrante dos Seminários sobre Assédio Moral realizados em Santa Catarina. Uma ausência sentida nesta última edição, mas lembrada com muito carinho e respeito nas palavras da professora titular do Departamento de Psicologia da UFSC, Suzana da Rosa Tolfo, na abertura do evento.
Acesse o link https://www.youtube.com/watch?v=Kq1sd_vtyBo para conferir a homenagem, em nome de todos os organizadores.
Fonte: Assessoria de Comunicação MPT-SC
Coordenação: Fátima Reis
(48) 32519913/ 988355654/999612861
Publicado em 11/04/2022